Discreto, humilde, simpático, magnífico!

27 junho 2011

Tiras de Oriomba!

O fantástico e modesto artista multimídia Oriomba apresenta mais uma das suas sensacionais criações: Oriomba em tiras!

25 junho 2011

El Cabrón!

Oriomba Corporation apresenta a mundialmente aclamada série psicótico-policial El Cabrón, com a utilização de modernos dispositivos que substituem os já ultrapassados Ctrl C e Ctrl V, dando lugar à originalidade ímpar do gênio multimídia de Oriomba, que lança mão de uma tesoura de unha e cola natural (goma arábica subtraída de um balcão dos Correios). Divirtam-se!!

Parte I


Parte II


Parte III


Parte IV


Parte V

22 junho 2011

Oriomba doa tudo o que tem ao seu 19º amor

Em quase meio século de vida, empurrando um carrinho de madeira singelamente adornado com a bandeira nacional, tal qual andarilho pagador de promessas, coletando pelo caminho tudo o que se pudesse inferir prestável ou imprestável, Oriomba participou de inúmeros bazares, trabalhou por comida, estacionou diversas vezes sua limusine na Esquina dos Aflitos, nas várias mudanças de endereço da referida feira livre dos que sobrevivem do escambo de quinquilharias corriqueiramente subtraídas do alheio, trocando seis por meia dúzia e no mais das vezes perdendo seus bens pelo simples prazer em andar de mãos vazias.

Viu seu espólio disputado por meia dúzia de viúvas, foi dado como desaparecido, chegando a ser repreendido pelo delegado por não possuir residência nem emprego fixo, e fez um carreto em especial, transportando consigo todos os seus pertences numa caravana solitária e sem destino a bordo de veículo popular, nos quase dois mil quilômetros que separavam um de seus precários endereços, próximo à fronteira com o paraguai, e a capital das alterosas, onde fincou o pé - mormente na lama - e de fato onde se construiu o principal palco de suas tragédias e comédias, em qualquer dos casos, dignas de comiseração e escárnio.

Decidido a se desfazer de todo e qualquer peso, adepto da caminhada febril, doentia, sem razão, sem objetivo, sem precedentes, Oriomba deu preferência à jornada despretensiosa, qual seja aquela em que não se carrega junto ao corpo mais do que dois merréis para a água mineral, já que o valioso líquido não verte com abundância em nascentes confiáveis como antanho. A caravana solitária se dá com a leveza de quem não tem peso algum nos bolsos, a despeito das toneladas na consciência, sabedor de que não se rouba do viajante suas lembranças e saudades, sua vontade e o que remanesceu de sua rota dignidade.

Mas para esvaziar os cofres é necessário hercúleo esforço, um bom maçarico ou simplesmente uma falência fulminante, que não deixa ao cidadão outra escolha. Nocauteia-o e o nivela aos animais rastejantes, e paradoxalmente é ao rês do chão que se vislumbra com nitidez impressionante o céu de brigadeiro de seu passado anuviado e, comendo terra a cada seis horas para não sofrer um colapso no sistema digestivo, pôr as vistas num panorama onde tudo parece estar incrivelmente claro, em que cada gota de orvalho caída do céu – ou de condicionadores de ar da avenida afonso pena – tem seu valor e sua razão de ser e é dádiva de deus ou dos antigos e carcomidos equipamentos springer admiral.


E foi nesse solo que conheceu a sua musa de número dezenove, mãe de todas as suas criações, desde as mais remotas, desde o início, os primórdios, o tempo em que vendia artesanatos baratos e andava com uma tabuleta dependurada, proclamando seus préstimos como autor, recitador e carpideiro de poesias baratas – só cinco cruzeiros, poesias feitas na hora, com lágrimas verdadeiras, senhoras e senhores! Toda a água fresca que se encontrava na moringa de Oriomba, ao lado de seu catre de presbítero moribundo, todo o alimento que evitou a degenerescência dos órgãos vitais deste narrador têm sido fornecidos por uma única fonte, encontrada onde menos se podia procurar, mas imediatamente percebida como a inevitável e irremediável provedora de inspiração, de pulsação, de motivos para continuar vivo, embora já se lhe tivessem declarado morto em várias ocasiões.


Por essa dama Oriomba resolveu abdicar de todos os seus pertences, adquiridos, como já mencionado, à custa de trabalho árduo, pequenos furtos, algumas passagens por artigos ainda remanescentes da lei das contravenções penais, doando à musa de todos os tempos o rol completo de bens doáveis, enfim, um rádio de pilha marca motorádio, um saco de leite em pó vencido, um compacto simples dos pholhas, um terno do leguedê das roupas, uma bicicleta barraforte monark, meio pacote de lanche mirabel, dois saquinhos cor de rosa de pipoca de ponto de ônibus, uma câmara de ar de trator para reunir a família e flutuar nas águas calmas de piúma, uma cítara com partituras natalinas, parte da dentadura do avô que Oriomba nunca conheceu, além de todas as cartas de amor que escrevera e recebera na adolescência, na ilusão de que todo aquele sentimento pudesse ser multiplicado pelas declarações sinceras e insanas gatafunhadas nas incontáveis missivas.

Um amor belo, profundo, puro, diferente! Nasceu na inocência de uma troca de olhares, e morreu quase numa troca de tiros. Mas não sem antes agonizar por trinta dias e trinta noites, quando, enfim, foi lavrado o atestado de óbito na presença de um tabelião juramentado e um pároco devidamente paramentado. Após grandiosas exéquias, ainda convalescente, o magnífico Oriomba fez todas as vênias de praxe e se despediu cortesmente, como exigia o seu status quo, tomando rumo incerto e não sabido, embora informações não confirmadas à época dessem conta de que houvera se jogado no leito do rio arrudas.

20 junho 2011

Oriomba logra êxito ao cortejar a moça mais cobiçada da área

No tempo em que Oriomba era desfavorecido de merréis, comercializando sua refeição matutina para adquirir a vespertina, desprovido de pecúnia suficiente quiçá para realizar exercício de evacuação fecal na rodoviária, apaixonou-se por moça rica, bem nascida e bem criada. Só tinha olhos para a donzela, adornada de ouro e pedrarias da cabeça aos pés. Anos antes ela fora eleita hous concours entre mais de quinhentas candidatas, incluindo duas ex misses Venezuela, uma rainha do funk e três sheilas do é o tchan. Perseguiu a pobrezinha de tal forma que durante meses se tornou sua sombra; dia e noite era a sua imagem refletida no espelho. Ela nem deu confiança.
Após longas horas de planejamentos frustrados e quase um litro de cachaça na cabeça, o remédio foi seqüestrá-la de seu elegante bangalô, e a refém seria usada e abusada para o nobre labor de inspirar as sístoles e diástoles do espetacular coração hipertrofiado deste que vos escreve, sem chance de devolução, fosse qual fosse o resgate oferecido, se bem que a moça portava em sua bolsa quantia que Oriomba nunca houvera visto em toda a sua magnífica vida.
Pouco custou para que a nobre inquilina se curvasse ao irresistível carisma do seu recente raptor. E a lua de mel começou imediatamente após a transferência dos pertences da herdeira, que Oriomba prefere não divulgar, por superstição e receio de seqüestro. A duração das efemérides não está bem definida na memória deste narrador, embora haja relatos de terceiros não confiáveis de que houve duas copas do mundo durante as festividades libidinosas. Passada a infindável solenidade íntima, e desejando fornir com víveres o delicado sistema digestivo de sua amada, àquela altura depauperado pela intempérie e por longos períodos de inanição – já que Oriomba decidiu, por si e por ela, desde que foram mortalmente arrebatados pelas flechadas certeiras do cupido, que viveriam somente alimentados pelas benesses oriundas dos generosos mananciais do amor, o bom samaritano pôs-se a cozer em banho maria o marmitex herdado na casa de vizinhos, remanescente da ceia de natal de setenta e sete, da qual Oriomba fora preterido por não possuir ainda o traquejo social suficiente para refrear seus instintos belicosos e seus olhos cheios de lascívia, endereçada esta última a toda e qualquer fêmea que ousasse cruzar seu caminho e aqueles primeiros aos marmanjos embriagados por abundantes doses de destilados baratos, dos que são vendidos em garrafas de plástico nas mercearias freqüentadas por nove entre dez “pés-inchados”.
E como amar ainda era de graça, Oriomba e sua recém eleita patroa deixaram-se envolver pelo relento irresistível do depois, de forma que, adormecidos, não deram atenção à panela de alumínio fundido, adquirida em três parcelas iguais, sem juros, na região da rua padre Belchior, já que o edifício balança-mas-não-cai se encontrava em reforma, obrigando os tradicionais comerciantes a se retirarem das imediações, e a referida panela de dez reais ferveu até extinguir a água e os escassos eflúvios sabor frango cozido que matariam a outra fome de Oriomba. Mais tarde seria possível atestar, senhoras e senhores, a indiscutível qualidade do artefato, que resistiu heroicamente ao fogaréu.
Em chamas, a cozinha do barraco improvisado de Oriomba ardeu durante o pouco tempo necessário para consumir irremediavelmente seus parcos pertences, provavelmente iniciando-se as lufadas ígneas sob o frango com farofa recebido em singelo óbolo de vizinhos benevolentes, até que as labaredas ganharam a sala e finalmente o quarto do casal inebriado pelos eflúvios benzodiazepínicos de Vênus e Baco, se é que este último tinha por hábito o consumo corriqueiro de catuaba selvagem e drink dreher.
Ainda hoje, recostado em elegante divã, guarnecido por peles de animais raros e cercado de troféus diversos, atendido por assessores e mucamas abundantes, enquanto contempla as paredes imaculadas dos salões de seu chateau, Oriomba sente o cheiro de galinha sapecada quando, na companhia da mulher a ele prometida quase meio século atrás, se recorda de sua primeira morada, incendiada pela paixão relapsa – a melhor das paixões, palco inaugural dos amores incipientes nos tempos em que os dois tinham a pressa de condenados à morte, como se amar fosse o único e último remédio para os sofrimentos idos, a derradeira redenção para os pecados cometidos na companhia das pessoas erradas.

Oriomba está de volta!

Depois de ser declarado morto por seis vezes no mesmo ano, Oriomba ficou em estado vegetativo por longo período. A morte cerebral bem que autorizava a família a doar seus órgãos, o que não aconteceu, pois credores, advogados e abundantes viúvas já haviam subtraído todos os seus pertences, miúdos de fato, para uma farta feijoada, além de sangue para o molho pardo e o que restara do estômago, transmutado em apetitosa dobradinha, de forma que pouco sobrou da carcaça macerada de Oriomba. De tanto levar chibatada na cacunda, eis que volta calejado e ressabiado, para tentar usufruir de maneira mais frugal sua sétima e última vida, e para que seja digna de verdadeira comoção nacional sua sétima e última morte. Mais uma vez Oriomba está de volta, com memórias mais vivas e disposição para manter ligadas todas as dezoito câmeras que o monitoram diuturnamente, garantindo fascículos diários de sua desgraça, queridos fregueses habituais e transeuntes ocasionais!